No segundo ano da Semana de Pentecostes, naquela terça-feira, que o padre Rambo celebrava e pregava, eu ficava me perguntando: “Pra onde eu vou levar esse povo? Qual é o caminho a seguir? O que fazer a partir de agora?”. Na verdade, eu estava cansado, desanimado e com medo, em uma bela crise espiritual, e dizia: “É melhor eu parar com isso, deixar que Jesus Cristo arrume outro mais preparado e que tenha o dom de agradar a todos”. Isso porque eu tinha a fama de não agradar a ninguém. Mas era verdade, eu não conseguia agradar nem a mim mesmo. O padre pregava e eu “viajava” naquela cadeira de celebrante. Eu queria estar longe dali, quem sabe no sertão do Ceará, voltando para casa para tanger jumento ou deitado em uma rede preguiçosa, esperando a morte.
Os anos que eu tinha ficado no seminário tinham me esgotado. Então, os três anos na Paróquia São Pedro tinham sido extremamente difíceis. Eu era traumatizado por não ser aceito por ninguém e tinha resistência à autoridade.
Mas, aquela voz falando ao meu ouvido, me ordenava: “Mande esse povo trazer uma vela na sexta-feira e consagra ao Pai; uma segunda vela no sábado e consagra ao Filho; a terceira vela no domingo e consagra ao Espírito Santo. Ordene que as acendam no momento mais difícil das vidas deles, que o milagre vai acontecer”. Aquilo era uma promessa que alguém estava fazendo, mas, como sempre digo, sou contra todos os tipos de superstições. Acreditava e acredito somente em Jesus Cristo. Eu tinha aprendido, na Renovação Carismática, que Jesus Cristo era o único salvador. Odiava vela apagada ou acesa por causa da minha experiência, de dois anos, em Vale do Amanhecer e em outros lugares por que passei, em que tive de enfrentar todos os tipos de superstições. Mas, aquela voz me repetia: “Mande esse povo trazer uma vela na sexta-feira e consagra ao Pai; uma segunda vela no sábado e consagra ao Filho; a terceira vela no domingo e consagra ao Espírito Santo. Ordene que as acendam no momento mais difícil das vidas deles, que o milagre vai acontecer”. Agora, eu obedecia ou desobedecia? Enquanto isso, o pregador daquela noite, o padre Roberto Carlos Rambo, sem nenhum dom musical, procurava imitar Roberto Carlos cantando “Como é grande o meu amor por você”. Enquanto eu lutava com aquela ordem, desejava matar aquele padre engraçado. Mas eu dizia para Jesus Cristo: o meu amor é realmente grande por Você, mas, por amor, eu não vou obedecer.
Durante anos, combati todos os tipos de superstições dentro e fora da Igreja – algumas delas eram até engraçadas. Certa vez, fui com um frei franciscano visitar um doente e, quando entramos na casa, uma pessoa que estava atrás da porta deu um grito com as duas mãos na cabeça, chorando desesperadamente, o que me assustou bastante. Ela dizia: “Ele vai morrer, não tem jeito”. Depois, explicou que o padre tinha entrado com o pé direito e que aquilo não falhava: todas as vezes que um padre visitasse um doente e entrasse em um ambiente com o pé direito, isso era sinal de que o doente morreria. Eu fiquei impressionado com a fé daquele povo. Eu dizia para Jesus Cristo: “Encerramos por aqui. Não falarei isso e, no domingo que vem, acabo com essa Semana de Pentecostes”. O fato é que eu escutei o padre parando a homilia e começando a rezar o Credo. Antes que ele terminasse, eu já estava com o microfone na frente do altar dizendo para assembleia: “Na sexta-feira, vocês vão trazer uma vela e eu vou consagrar ao Pai; no sábado, vocês vão trazer uma segunda vela e eu vou consagrar ao Filho; e, no domingo, uma terceira vela que vou consagrar ao Espírito Santo. E, no momento mais difícil das suas vidas, vocês irão acendê-las e o milagre vai acontecer”. Quando eu terminei de falar isso, todos começaram a aplaudir e gritar, achei que a igreja fosse cair. Fiquei com vergonha e dizia pra mim mesmo: “Como é que eu vim parar aqui e falar isso?”. Eu não ia falar, mas disse exatamente como tinha ouvido.